A minha Mãe,
permaneceu toda a noite apoiando a amiga e vizinha Jane Campbell, na vã tentativa
de consolá-la. Como se consola uma pessoa que perde o seu amor, mais a mais,
numa guerra estúpida e sem qualquer sentido? O que se diz, ou o que se deve dizer não sei, acho até
que ninguém sabe. Mas penso que devemos deixar que o coração fale naquele
momento. As palavras que provêm do coração, são as mais indicadas porque são
ditas com amor verdadeiro.
Ao
pequeno-almoço, a minha Mãe e eu pusemos a conversa em dia. Falei-lhe da viagem
e do que acontecera na prova de surf, cuja qual fora forçado a desistir devido
ao embate do outro concorrente, que me partiu a prancha, sendo eu também penalizado.
─ Essas coisas
acontecem, filho. Não te chateies com isso. Agora tens é de comprar uma prancha
nova, tens dinheiro?
─ Não. Mas Mãe,
nesse ponto não há nada a recear. Andy, também é shaper. Ele faz-me uma nova prancha, tenho é de ir ter com ele hoje
depois do almoço, para ajudá-lo.
A minha Mãe ficou
mais tranquila e disse-me para convidar Andy para jantar connosco esta noite.
─ Ok, eu
digo-lhe.
Seguidamente,
foi-se embora. Estava na hora de entrar ao serviço.
Enquanto arrumava
a cozinha, na televisão falavam na guerra do Vietname nas notícias. Milhares de
rapazes morriam neste conflito estupido e pedia-se mais voluntários para combater. A
maioria dos rapazes da minha idade, tinham sucumbido e cedido à tentação, de
serem combatentes e heróis de guerra, tornando-se assim, voluntários. Outros foram simplesmente convocados
para ir, não podendo usar o seu livre-arbítrio para escolher. E eu, também
poderia escolher, ou estava-me velada tal opção? Desconhecia a resposta por ora.
Deitei-me lá fora
na rede, uma brisa fresca soprava e as nuvens corriam pelo céu loucamente,
unindo-se umas às outras formando um lençol cinzento. O tempo estava a mudar,
uma tempestade de Verão vinha a caminho. O mar agitava-se na fúria das ondas,
que se debatiam de encontro às rochas e apaixonadamente beijavam com
intensidade a areia da praia. Ao longe, começava a trovejar. Todo este cenário
era lindo e assustador simultaneamente.
Após trancar
as portas e as janelas, levantei-me da minha cama de rede na varanda e fui ter com
Andy, que se encontrava no barracão. Estava a fazer a prancha. Esta era bem diferente
da anterior que possuíra. Era mais pequena e mais maneirinha.
─ Hey, Jake! Tudo
bem? E que tal, gostas da tua nova prancha? É uma fish, um modelo moderno. Vai ajudar-te a ter mais equilíbrio e
permitir-te ser mais rápido a cortar as ondas!
─ Está muito
porreira, Andy! Fixe! Gosto imenso. Obrigado.
Estava quase
pronta, era só mais dois dias, talvez e já podia usá-la cavalgando as ondas.
Ficámos a imaginar como este modelo seria bom para mim, seria até vantajoso nas
provas e segundo o Andy, facilitava muito ao remar, pois era mais leve e
deslizava melhor.
─ Andy, a minha
Mãe convidou-te para jantares connosco esta noite.
─ Ah, está bem. A
que horas?
─ Às 21h30. Pode
ser?
─ Sim, pode sim.
Lá estarei. Levas a Mary?
─ Não.
─ Porquê, Jake?
─ A minha Mãe
ainda não sabe, nem os pais dela.
─ Porque não
contas?
─ É cedo, meu.
Queremos fazer as coisas como manda a tradição e como está na religião dela.
─ Hmmm, sabes,
vais ter que te converter ao judaísmo…
─ Quem, eu? Nem
tenho religião, meu!
─ Pois, mas se
queres fazer as coisas como deve ser, vai ter de ser assim. Como é que vocês
estão? ─ Indagou Andy, estendendo-me uma cerveja. Depois sentou-se na bancada,
perto da prancha.
─ Estamos bem.
Ontem pedi-a em namoro!
─ Sério? E ela,
aceitou?
─ Aceitou, amigo.
E então,
falei-lhe do incidente na casa dela. Ele divertiu-se com a história, mas
advertiu-me para ter cuidado. Se os pais dela soubessem de tudo, antes de nós
contarmos, seria péssimo para o nosso amor. Eles poderiam não aceitar.
De seguida, fui
para casa e despedi-me do Andy, com um até já, lembrando-o do jantar em minha
casa. Às 21h30, a campainha da porta tocou e como estava a terminar de escrever
no bloco de notas, um verso para fazer um poema para a minha amada, gritei para
a minha Mãe ir atender. Ela murmurou qualquer coisa que não entendi, mas foi e
de seguida ouvi-a gritar como se se tivesse assustado, ouvi ainda uma coisa
cair no chão, que se partiu estilhaçando-se e, largando tudo, corri aflito até ela.
─ Que aconteceu?!
─ Exclamei confuso, ao encontrar a minha Mãe desmaiada no chão e Andy, de volta
dela tentando socorrê-la.
Andy, balbuciou
um “Não sei…”, que me deixou desconfiado de que ele sabia alguma coisa que
estava a esconder-me e quando a minha Mãe recuperou os sentidos, ao
perguntar-lhe o motivo do desmaio, ela disse que tinha tido apenas uma quebra
de tensão.
No chão havia
estilhaços de cerâmica e bocados de batata por todo o lado, Andy ofereceu-se
para ajudar-me a limpar, mas em silêncio.
O jantar, correu
bem mas havia ali algo que me estava a escapar… A minha Mãe parecia evitar o
contacto visual com Andy e ele, seguia o seu exemplo. Durante a conversa, só eu
é que falava e quando me calava, ficava um silêncio muito tenso.
─ Vocês já se
conheciam antes? ─ Arrisquei perguntar.
Então, Andy
engasgou-se subitamente e ninguém respondeu à pergunta, porque entretanto,
Jane, ─ a nossa vizinha, ─ entrou em nossa casa desfeita em lágrimas, anunciando
que o seu marido Thomas tinha sofrido um atentado no Vietname, tendo morte
imediata…
A minha Mãe
amparou Jane e o jantar terminou por ali. Ela tinha de dar apoio à amiga. Andy,
foi para casa e ficou combinado que conversaríamos melhor no dia seguinte.
Deitado na cama,
pensava em tudo o que tinha acontecido e quanto mais pensava, mais estranhava. De
certeza que eles se conheciam, mas de onde?
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
(Próximo Capítulo a Publicar: Domingo, dia 25 de Agosto de 2013)
Chegámos de
madrugada a Huntington, Andy deixou-me à porta de casa.
─ Pronto, puto,
estás em casa.
─ Obrigado, Andy.
─ Vá, vai
descansar. Amanhã temos a tua prancha para fazer.
─ É verdade.
Amanhã, ou logo?
─ É logo, mas
como ainda não dormi, acabo sempre por dizer amanhã.
─ Pois, entendo.
A que horas queres que apareça?
─ Às 14h00, dá
para ti?
─ Sim, claro.
Vejo Mary de manhã e depois vou ter contigo.
─ Ok, então
ficamos assim. Até logo!
─ Tchau, Andy ─ e
a carrinha arrancou prosseguindo a sua curta viagem.
Abri o portão e parei,
olhei o céu estrelado. “Mary…”, murmurei baixinho. Estava com saudades dela. O
relógio marcava 4h30, não tardava muito para o sol nascer saudando o novo dia. Mas
ao mesmo tempo, sentia que faltava uma eternidade para estar com ela. “O que
fazer então? Vou dormir, ou vou ter contigo?”, questionei-me pensando em voz
baixa.
Saí pelo portão,
fechando-o atrás de mim decidido a ir até à janela do quarto dela. Depois, logo
veria o que faria. Se ela estivesse acordada, seria óptimo. No entanto, era
mais provável que estivesse a dormir. Ela não sabia que eu chegava hoje, nem
quando chegaria, por isso, não contava que estivesse acordada. O meu coração
batia descompassado, chamando o seu nome como se cantasse a mais doce das
melodias de amor.
Subi o muro da
casa dela e como estava ainda muito escuro, coloquei mal o pé e ao galgar o
muro esfolei a perna, ferindo-a. Gemi um pouco mais alto que devia, sentindo o
sangue morno escorrer da ferida. As luzes da casa acenderam-se e eu corri pelo
jardim, para me esconder. Olhei procurando a mangueira para me lavar, estava
perto do baloiço. “Óptimo”, pensei “assim, posso lavar-me”. De seguida a porta
abriu-se e eu encolhi-me atrás do roseiral, que ao agachar-me bruscamente, me fez picar o braço na
roseira. Olhei e vi um homem de meia-idade, de roupão de
seda azul-escuro e com pijama, com chinelos castanhos.
─ Quem está aí? ─
Perguntou.
Mantive-me em silêncio
e escondido.
─ Joshua, está aí alguém? ─ Ouviu-se uma
voz feminina, do interior da casa.
─ Eu pensava que
sim, pelo barulho. Contudo, não vejo ninguém, Hannah. ─ Respondeu o homem.
─ Deve ter sido impressão tua. Anda deitar-te,
ainda acordamos a vizinhança por nada…
─ Tens razão,
Hannah. Já estou a ir, Amor… ─ e voltou para casa, fechando a porta. Aguardei
que as luzes da casa se voltassem a apagar, para me lavar e sair rápido dali. Aquele
homem, devia ser o pai de Mary e a voz da mulher que se ouviu, devia ser da mãe
dela. Tinha de me despachar e ir-me embora o quanto antes. Não seria bom encontrarem-me ali àquela
hora da madrugada, conhecendo-me como namorado da sua única filha. Isto poderia
trazer problemas para nós, certamente.
Assim, mal se apagaram
as luzes corri cautelosamente até à mangueira, lavei-me e é ao fechar a torneira,
que alguém me toca no ombro. “Fogo, já fui apanhado”, exclamei em
pensamento.
─ Estás caçado!
Era Mary,
voltei-me para ela e beijei-a apaixonadamente.
─ Assustaste-me,
Amor!
─ Eu sei, fiz de
propósito! ─ Exclamou com um sorriso maroto. Vem comigo, ─ disse pegando-me
pela mão. Fomos para as traseiras da casa dela, onde estava a piscina.
─ Pensei que
estivesses a dormir.
─ Nãaaa, nem
podia mesmo. Sabia que chegavas hoje e, depois, chamaste-me. Eu ouvi.
─ Como assim,
ouviste? ─ Perguntei intrigado.
─ Vais dizer que
não me chamaste?!
─ Chamei-te em
pensamento, quando vinha para aqui. Não foi em voz alta!
─ Eu sei, Amor.
Eu senti, no meu coração. ─ E beijou-me saudosa. ─ Amo-te tanto. Nunca duvides
disso.
─ Claro que não,
Mary. Também te amo muito.
─ Agora deixa-me
tratar-te esses arranhões.
─ Vai doer…? ─
Perguntei a medo.
─ Não acredito
que me perguntaste se vai doer!
─ Porquê?
─ Simples,
pareces um bebé grande! ─ E riu-se troçando de mim. ─ Sim, vai doer um pouco.
Mas depois, eu dou beijinho e o doi-doi sara.
Abracei-a contra
o meu peito e olhei-a profundamente nos olhos.
─ Amo-te, Mary.
Para sempre.
─ Ena, ena! Isso
tudo é por te tratar do doi-doi, é, meu bebé?!
─ Não. Isto tudo é
por te amar. Tenho uma coisa para ti, mas não sei se vais gostar… ─ Introduzi a mão
no bolso e dei-lhe um anel. ─ Não é ouro, não tenho dinheiro para comprar-te
um desses, ainda. Mas é simbólico… Mary, queres namorar comigo? ─ Ajoelhei-me a seus pés
declarando-me.
─ É lindo, Amor!
Adoro e sim, quero namorar contigo, amo-te ─e beijámo-nos apaixonados.
Meia hora mais tarde,
deitei-me feliz na minha cama. Mary, era minha namorada.
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
(Próximo Capítulo a Publicar: Domingo, dia 18 de Agosto de 2013)
Faltavam duas semanas
para o campeonato de surf da minha
região e os treinos continuavam. Treinava todos os dias intensamente, queria
ficar bem qualificado e Andrew sabia bem como puxar por mim. Mas antes deste
campeonato, houvera outro onde participei. Porém, desta vez não me correu tão
bem, como da primeira vez em Venice… Partimos para San Diego, directamente para
a praia de Ocean Beach. Foram cerca 5h00, 142 Milhas/228Km de distância de casa
até lá, porque tivemos de parar uma hora para Andy descansar. Esta viagem foi um
bocado mais longe e mais longa, do que eu pensava. Andy disse-me que deveria
acostumar-me, porque havia uma grande tendência para estas viagens serem cada
vez mais longas e demoradas.
Passei a maior
parte do caminho da viagem a San Diego a pensar em Mary. Estava completamente
apaixonado. Mary vinha ver o meu treino ao fim da tarde, depois ficávamos a
namorar e a conversar um pouco. Todos os dias acompanhava-a a casa ao
anoitecer. O nosso namoro era estável e harmonioso, brincávamos e riamos muito
nos nossos encontros. Porém, na noite da nossa despedida ela veio ter comigo. Disse
que teria muitas saudades minhas, do meu abraço, dos meus beijos… Eu respondi
que também ia ter saudades e então, começamo-nos a beijar. Durante o passeio ao
luar, os nossos beijos tornaram-se ardentes, apaixonados e então entrámos para
dentro da gruta. As carícias eram cada vez mais intensas e o desejo de a ter, aumentava
vigorosamente dentro de mim. Percebendo o meu desejo, Mary empurra-me e dizendo
que me ama, sai a correr para casa. Desconcertado, chamo-a e ela pára, volta-se
dizendo apenas:
─ Depois!
E continuou correndo em
direcção a casa. Queria mais, queria conhecê-la por dentro e saciar o nosso desejo.
Inicialmente as
coisas estavam a correr bem, no campeonato em Ocean Beach. Já estava no 2º
lugar e com uma excelente pontuação. Andy e eu, estávamos muito animados.
Porém, surgiu um problema que me forçou a desistir do campeonato e regressarmos
a Huntington inesperadamente. Um surfista extremamente ganancioso chocou contra
mim, para apanhar a onda que eu já havia apanhado e que estava a dropar na perfeição! O resultado disto
foi uma prancha partida, a minha, e a desqualificação do outro concorrente não
somente na prova, como também do campeonato! Os juízes estavam atentos. Contudo,
sem prancha não poderia continuar e como só tinha aquela, tive de desistir e
regressámos a casa mais cedo.
A inveja é realmente
um caso sério e eu detestava desistir. Para mim, desistir era pior que perder,
porque quando se perde é sinal de que participámos de algo, sinal de que
tentámos. Enquanto que a desistência é um abandono e demonstra que a pessoa não
tem capacidade, nem tem competência para lutar pelos seus objectivos.
Fiquei chateado e
meio amuado durante grande parte da viagem de regresso, Andy respeitou o meu
silêncio até um certo momento. Mas depois, ele falou na tentativa de me
tranquilizar.
─ Deixa lá, Jake,
não te preocupes. Eu faço-te uma prancha nova, daquelas mesmo à maneira e podes
participar do campeonato em Huntington.
─ Tu não entendes,
meu. Não gosto de desistir de nada nesta vida.
─ Tinhas outra
alternativa?
─ Nop e é
precisamente isso que mais me chateia!
─ Ganhar, perder
e desistir faz tudo parte do mesmo.
─ Não, não faz!
─ Claro que faz,
puto. Repara que para se desistir de algo, primeiro tem que se participar. Sem
participação não há vitória, nem derrota e muito menos desistência. Não há
nada, percebes?
─ Sim, mas
desistir mostra falta de capacidade e falta de Fé.
─ Nem sempre, meu
amigo. No teu caso, não foi nada disso. Desistimos porque não tinhas a
“ferramenta” principal para continuares na competição. Partiu-se a prancha, foi
um acidente e acidentes acontecem.
─ Mas isto não
foi um acidente! Ele fez de propósito!
─ Disparate,
claro que foi um acidente. Ele não queria ser desclassificado, não te parece? O
que ele queria era a onda e nada mais, mas nem sempre as coisas são como nós
queremos.
─ É bem-feito
para ele ter sido penalizado!
─ Jake, cuidado
com esse ódio. Olha que quando ficas contente com a desgraça alheia, ou desejas
mal aos outros, isso vem para ti. É a lei do retorno e esta é como um boomerang, o que dás é-te devolvido em
dobro. Não importa que tipo de sentimento seja usado, esta é a lei universal.
Então, calei-me.
Reflecti em tudo o que Andy me estava a dizer. Ele parecia ser apenas um
surfista reformado, um simples surfista, mas quando ele falava assim parecia um
filósofo, um mestre espiritual. Andy, continuou:
─ Jake, há
momentos na vida em que somos obrigados a desistir do que mais queremos, até
dos nossos sonhos, mesmo de um grande amor…
─ Já foste
forçado a isso? ─ Perguntei cauteloso. Pelo olhar triste de Andy, compreendi
que ele não se estava a referir à sua carreira de surfista, mas sim à tal
mulher.
─ Sim, fui. Mas
tal como tu, não tive opção.
─ Foi um grande
amor?
─ Sim.
Apaixonei-me por uma linda rapariga numa quente noite de Verão. Foi amor à
primeira vista, ela era divertida, dinâmica e independente. Estava por cá de
férias na casa dos pais. Ela também gostou de mim assim que me viu, o nosso
olhou cruzou-se e… bum! Apaixonámo-nos e foi fulminante! Comecei a namorar com
a Red 3 dias depois…