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domingo, 28 de julho de 2013

Capítulo 9 - Sejamos Loucos


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Capítulo 9

Sejamos Loucos


Cheguei à praia e vi-a no pontão, Mary olhava o mar abraçando-se a si mesma. O sol deitava-se no oceano, onde fizera das ondas o seu leito e esperava pela sua tão amada lua. O vento despenteava os cabelos longos de Mary e fazia o seu vestido de Verão, verde água, esvoaçar, como se bailasse ao som de uma música celeste. Permaneci contemplando-a por breves segundos e depois, caminhei até ao seu encontro. Ao ver-me, correu para mim e abraçou-me, beijando-me e pedindo-me que a abraçasse:
 
─ Abraça-me, Jake.
 
Perante aquele pedido, abracei-a mas fiquei preocupado. Ela parecia assustada. Ficamos assim abraçados durante alguns momentos, em silêncio e senti-a tremer. Estava a chorar, a minha t-shirt azul ficou molhada com as suas lágrimas.
 
─ O que tens, Mary? ─ Perguntei preocupado.
 
─ Jake, tenho que te dizer uma coisa mas não sei como fazer isso, porque nunca o fiz antes… ─ Disse limpando os seus olhos, agora mais verdes e intensos como nunca havia visto.
 
─ Chiiiiiu, acalma-te, não tens de me contar nada que não queiras contar. ─ Murmurei abraçando-a de encontro a mim para acalma-la.
 
─ Tenho sim, Jake. Precisamos conversar.
 
─ Ok, Mary, está bem.
 
Mary, pegou na minha mão e levou-me para a praia. Sentou-se na areia e eu, segui-lhe o exemplo.
 
─ Jake, desde que te reencontrei, mudei. Comecei a interessar-me por coisas que não conhecia, como o surf e o meu comportamento mudou também. Não conseguia deixar de pensar em ti, ─ ainda não consigo, nem consigo dormir. Depois de me esgotar em pensamentos há algumas noites atrás, adormeci e tive um sonho onde me apareceste, só que nem tu eras tu e eu também não era eu!
 
─ Como assim, Mary?
 
─ Tínhamos outros corpos, não estes. Porém, ao olhar-te nos olhos, soube que eras tu. No sonho vi que nos amámos há muito tempo atrás, fomos um casal. Depois, quando me beijaste naquela manhã, lembrei-me do sonho… E, és tu. Jake, és tu o amor da minha vida. Estou apaixonada por ti… ─ E ao declarar-se, baixou os olhos timidamente.
 
Beijei-a numa explosão de alegria e disse:
 
─ Amo-te, Mary, amo-te. ─ Acariciei-lhe o rosto e olhei-a nos olhos. ─ Mas, porque choravas, Amor?
 
─ Porque primeiro; nunca me declarei, cabe aos homens darem esse passo. Segundo, não tinha a certeza se me corresponderias, ─ embora me tivesses beijado… E terceiro, tive medo que me achasses louca!
 
─ Louca? Mary, não te acho louca. Eu sinto o mesmo por ti, desde que nos reencontramos na loja. Também não consigo dormir, por pensar só em ti, 24 horas por dia. Estou perdidamente apaixonado por ti. Amo-te. Sejamos loucos, então!
 
Ela beijou-me e aninhou-se de encontro ao meu peito, abracei-a.
 
─ Acreditas em vidas passadas, em Almas Gémeas?
 
─ Antes de te conhecer, essa ideia não me parecia real, de todo. Mas agora que estamos juntos, parece-me que essas teorias são possíveis. Portanto, acredito. Safira tinha razão!
 
─ Quem é essa Safira? ─ Perguntou Mary um pouco ciumenta.
 
─ Ahahah! Não estejas com ciúmes, Amor. Safira, foi uma cigana que me fez uma consulta de Tarot e falou-me no meu destino. Ela disse que brevemente iria encontrar um amor do passado, que essa mulher era a mulher da minha vida e que eramos Almas Gémeas.
 
─ A sério?
 
─ Sim, a sério. E eu mostrei-me incrivelmente céptico! Ela não ficou nada impressionada, disse que quando reencontrasse a mulher da minha vida, isso ia passar e mudaria de opinião. E não é que está a aconteceu exactamente como ela disse que seria?! UAU!
Conversamos e namoramos mais um pouco, depois fui levá-la a casa. Despedimo-nos com um beijo, com a certeza de que esta noite não ficaríamos insones. Deixei-a em casa e fui ter com Andy.
─ Hey, meu! Que surpresa, estava a pensar em ti! Está tudo bem, dormiste?
 
─ Sim, dormi ─ respondi afirmativo e puxei uma cadeira sentando-me, virando as costas da cadeira para a minha frente.
 
─ Ainda bem, estava preocupado. Mas agora noto que estás diferente, pareces até mudado, mais alegre! O que aconteceu?
 
─ Bem, já que falas nisso e notaste que estou diferente, vou contar-te. Estive com Mary e, bom, somos namorados.
 
─ A sério, puto? Que fixe! Parabéns, pá! ─ Exclamou dando-me uma palmada nos ombros. Hoje é só boas notícias!
 
─ Então?
 
─ Vai haver um campeonato em Ocean Beach, San Diego a semana que vem. Queres ir, puto?
 
─ É claro que quero! Isso é pergunta?!
 
─ Ahahah, então como agora tens uma namorada, podias não querer ir! ─ Exclamou Andy, metendo-se comigo.
 
─ Achas mesmo?
 
─ Nop, estava a brincar contigo.
 
─ Estava aqui a pensar que era bom que ela também fosse.
 
─ O rapaz perdeu o juízo! Onde pensas que estás? Além disso, ela é judia. A família dela deve ser muito tradicionalista, conservadora… Duvido mesmo muito que deixassem ela ir contigo.
 
─ Pois, és capaz de ter razão. Ainda não os conheço…
 
─ E mesmo que já os conhecesses, isso não ia acontecer. Vocês têm que ter cuidado.
 
─ Cuidado, com o quê?
 
─ Com a família dela.
 
─ Então?
 
─ Então, tu não professas a mesma religião que eles e isso pode trazer problemas aos dois.
 
─ Eu não tenho propriamente religião…
 
─ Pois, mais me ajudas…
 
Os dias passaram e a cada dia, estávamos mais apaixonados um pelo outro. Mary, ia ver-me surfar ao fim da tarde. Umas vezes vinha sozinha, noutras vinha com o Mike. Mike, sabia do nosso namoro e apoiava-nos. Mas a família ainda não sabia que Mary namorava com um rapaz surfista, era cedo para oficializar o nosso amor. Namorávamos há uma semana e entendíamo-nos perfeitamente. Havia momentos em que adivinhávamos o pensamento um do outro, não discutíamos e tínhamos muita confiança um no outro também.
 
A despedida para o campeonato na Praia de Ocean, foi difícil para ambos. Mas era um mal necessário, seria bom para mim esta prova. Já não conseguíamos estar separados muito tempo.
 
Entretanto, nos jornais e na televisão falava-se no conflito levado acabo no Vietname, onde milhares de rapazes morriam à mercê das tropas vietnamitas, do Vietname Sul. Era uma tristeza sem tamanho… Os hippies manifestavam-se pedindo o fim da guerra e desejando a paz.
Afinal, a Era da Paz e do Amor Livre tinha nascido a nova filosofia onde se fundamentava a Nova Era, a Era de Aquário que mencionava os reencontros terrenos entre Almas Gémeas, assim falavam os místicos e os hippies.
 
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
(Próximo Capítulo a Publicar: Domingo, dia 4 de Agosto de 2013)
 


domingo, 21 de julho de 2013

Capítulo 8 - O Primeiro Beijo

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Capítulo 8

O Primeiro Beijo

 
Passaram-se alguns dias, desde que encontrara Mike e Mary na loja. Desde então, nunca mais a tinha visto, nem ao Mike mas também não a tinha esquecido. De dia pensava nela, de noite sonhava. Isto quando conseguia adormecer, porque dormir mesmo a noite inteira, começava a ser uma raridade! Agora era sempre assim, pouco ou nada dormia, não importava se estava muito ou pouco cansado. Não parava de pensar nela…

Uma hora após ter acordado, levantei-me. Estava cansado de dar voltas na cama vazia. Como não conseguia dormir, fui para a praia pescar. Era o melhor que podia fazer, pelo menos distraía-me com a linda paisagem. Mais tarde, iria surfar à hora combinada sob as instruções de Andy. Este era o plano. No entanto, eu não estava sozinho naquela praia como pensava, porque sem que eu esperasse umas mãos vendaram os meus olhos.

─ Quem és? ─ Perguntei, mas ninguém me respondeu. Então, como desejava que fosse Mary, arrisquei e disse o seu nome. ─ Mary?

─ Como soubeste que era eu?! ─ Disse ela saindo de trás de mim, surpreendida.

─ É fácil, o toque é feminino. As mãos das mulheres são mais suaves.

─ Humm, muito espertinho, tu! O que fazes aqui a esta hora, ainda nem amanheceu!

─ Não tinha sono e vim pescar para descontrair. É bom para acalmar a mente. ─ Respondi.

─ Ui, o que é que te anda a tirar o sono? Não me digas que sou eu! ─ Disse na brincadeira.

─ Claro, que não... Só estou ansioso com o campeonato, é isso. ─ Respondi com uma meia verdade. Estava surpreendido com a percepção de Mary. Como podia ela saber?! Conhecíamo-nos havia poucos dias e ela já percebera meus sentimentos! As mulheres tinham uma intuição excepcional, realmente. "Boa, Jake, realmente és muito bom a guardar segredos. Idiota!", suspirei censurando-me em pensamento.

─ Estás mesmo preocupado! Que campeonato é esse, também posso participar?! ─ Perguntou Mary com entusiasmo.

─ É mais ansiedade o que sinto, do que preocupação. O campeonato de que estou a falar, é de surf e realiza-se nesta praia daqui a 14 dias, do qual sou participante. Era porreiro se entrasses! Praticas surf?

─ Não, mas gostava. Mas tudo bem, não posso. O meu pai também não me deixava.

─ Então porquê? ─ Perguntei interessado.

─ Não é óbvia essa resposta?!

─ Não.

─ Ok, está bem, eu explico. É porque sou uma mulher, Jake.

─ E o que é que tem de seres mulher?

─ A minha família é muito tradicionalista, conservadora. Os meus avós são judeus e quando se deu a segunda guerra mundial, fugiram da Alemanha e vieram no porão de um navio para cá. Vinham cheios de esperança para começar uma nova vida. América, o país da liberdade e da realização dos seus sonhos.

─ E os teus avós que vieram para cá, eram paternos ou maternos?

─ Eram paternos, os meus avós maternos já cá estavam e eram amigos da família dos meus outros avós. Foi assim que os meus pais se conheceram, ficaram noivos e casaram. Seguiram os preceitos judaicos a rigor e transmitiram-me esses mesmos valores.

Eu ouvia-a atentamente e a cada palavra, a cada movimento do vento nos seus longos cabelos ondulados louros, deixava-me mais apaixonado por aquela jovem que era prima do meu melhor amigo: Mary. Até que um peixe mordeu o isco e a história foi interrompida! Numa grande animação tirámos o peixe de dentro de água, Mary prontificou-se a ajudar sem que lhe pedisse auxílio. Ela era dinâmica, activa, cheia de iniciativa e muito perspicaz também. O vestido esvoaçava levemente com os seus movimentos e revelava-me a perfeição do seu corpo de mulher. Seus seios eram redondos, mas não muito grandes, a cintura era fina e bem delineada, assim como as suas coxas e pernas. Pareciam terem sido esculpidas por escultores célebres da história da arte, tais como Miguel Ângelo, ou Leonardo Da Vinci. Suspirei fechando os olhos apreciando o momento, sem ela perceber, até que houve um movimento imprevisível a manejar a cana que nos enrolou um no outro, no fio de pesca. Os nossos corpos tocavam-se e as nossas bocas roçaram-se por breves instantes, numa respiração quente e ofegante. Senti os seus seios redondos, aumentarem de volume de encontro ao meu peito musculado, naquele momento de excitação. Então parámos e ao olharmo-nos nos olhos ficámos em silêncio. A lua iluminava os belos olhos de Mary, verdes como o mar e as nossas bocas uniram-se num longo beijo apaixonado. E que beijo, meu Deus! Tão doce. Tão quente, molhado, intenso deixando-me muito excitado, mas no momento em que minhas mãos avançavam precipitadas pelos seus seios, ela empurrou-me e já desembaraçado do fio desequilibrei-me e cai no chão.

─ Tenho de ir... ─ Declarou, saindo a correr subitamente.

─ Mary... ─ Chamei-a, mas ela não respondeu e desapareceu em direcção a casa.

Fechei os olhos e deixei-me ficar deitado, a recordar o momento vezes sem conta. Mas por outro lado, fiquei confuso. Teria ela ficado chateada por causa do nosso beijo...? Ou ela empurrou-me e fugiu por ter gostado? Claro que ela não tinha gostado, fui demasiado ousado e atrevido!

─ Jake, és um idiota! ─ Murmurei sentado na praia. ─ Estraguei tudo com a Mary... ─ e dizendo isto, as lágrimas molharam o meu rosto. Limpei-o em seguida, já era dia e o sol estava a nascer. Andy, acordara e eu não queria que ele me visse assim.

─ Bom dia, puto! Já cá estás? ─ Perguntou Andy ao abrir a porta da sua casa.

─ Olá, Andy. Bom dia. ─ Respondi pensativo e comecei a arrumar o material de pesca. A linha estava partida e tinha deixado o peixe fugir.

─ Estás aí há quanto tempo? ─ Perguntou.

─ Desde as 4h30...

─ Madrugaste hoje! O quê, caíste da cama abaixo, foi? - Brincou. ─ Tens de controlar essa tua ansiedade.

─ Pois tenho...

─ Anda daí, vem tomar o pequeno-almoço comigo.

─ Obrigado, Andy, mas não tenho fome. Desculpa.

─ Hoje estás esquisito. O que se passa contigo? Foi a tua mãe?

─ Não, não foi nada. Está tudo bem. Vamos treinar?

─ Ok, ok, hoje não estás com muita disposição para conversas. Não é? Estou a compreender-te. ─ Dizendo isto, fez um gesto para eu ir andando. ─ Vai.

Ele já iria ter comigo depois do pequeno-almoço e obediente, fiz o que ele me indicava com o gesto. Peguei na prancha e nadei com ela até onde costumava ir, para cavalgar nas ondas. Depois, esperava e concentrava-me profundamente. Eramos só nós, o céu, o mar, a brisa, Deus e eu. Para mim o sol era a face de Deus, ou pelo menos era assim que eu pensava.

Tentei esperar por Andy, mas hoje estava demasiado nervoso, impaciente. Sentia-me confuso e perturbado, mas também muito apaixonado.

Logo depois chegou o Andy que foi ajudar-me a desenvolver-me nos tubos. Adorava fazer isto, entrar dentro das ondas. Era espectacular!

E assim começava o meu dia, seguindo para casa para almoçar, regressando depois à tarde para surfar novamente. Mas hoje, não me estava a apetecer ir para casa. Com a sorte que estava a ter, ainda ia dar de caras com o Mike que depois, provavelmente, me pediria contas por causa de Mary. Afinal eles eram primos direitos... Talvez devesse ficar com Andy e tentar dormir ali, pois esta noite não pregara olho por estar a pensar em Mary. E a lembrança daquele beijo veio à minha mente, outra vez. Foi tão quente que quando penso no beijo, ardo por dentro. Terei errado tanto assim?

Agora mais do que nunca tinha a certeza, era Mary a mulher da minha vida. No meio destes pensamentos, distraí-me e perdi o equilíbrio caindo ao mar. Vi Andy bracejar à beira do mar, mas como estava tão absorto nos meus pensamentos não percebi o que ele dizia e bati contra outro surfista que estava perto. O nome dele era Dilan.

─ Hey, estás cego ou quê, meu? Vê mas é para onde vais!

─ Desculpa, Dilan. Não te vi, estava distraído…

─ Distraído?! Estás a precisar é de estar com uma mulher, isso sim!

Não lhe dei resposta e remei até à praia. Andy, que tinha assistido a tudo, perguntou imediatamente:

─ O que foi aquilo, puto? Passaste-te?!

─ Distraí-me…

─ Distraíste-te? Ouve lá, faltam duas semanas para o campeonato. Não te podes simplesmente distrair, Jake! Concentra-te, meu.

─ Desculpa, não volta a acontecer.

─ Vê se atinas!

Andy deu-me um enorme sermão. Ele tinha razão, tinha de concentrar-me, ou poderia esquecer o campeonato. Perguntou-me o que se passava comigo e eu contei-lhe a verdade, falei-lhe de Mary e no que tinha acontecido.

─ Ah, então é isso! Encontraste-a. Compreendo, mas não te preocupes. Ela volta.

─ Achas?

─ Sim, dá-lhe tempo. Ela assustou-se, provavelmente, está confusa também. Isso passa!

Depois desta conversa esclarecedora, fui para casa dormir, ou pelo menos tentar. Precisava descansar, mas desta vez dormi mesmo. Foi toda a tarde.

Fui acordado pelo telefone, que tocava insistentemente. Atendi, mas ao levantar o auscultador desligaram do outro lado da linha sem que eu tivesse tempo de falar. Praguejei aborrecido e após por o auscultador no local, vi debaixo da porta da rua um papel dobrado.

Intrigado, cocei o queixo proeminente e bem barbeado, apanhei a folha de papel do chão, que estava dobrada em duas e li-a. Nela estava escrito o seguinte:

Jake,
 
Vem ter comigo à praia ao pôr-do-sol.
Precisamos conversar.
Mary
 
Guardei o bilhete no bolso dos calções e fui para a praia espera-la. Estava na hora.
 
 
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
(Próximo Capítulo a Publicar: Domingo, dia 28 de Julho de 2013
 



domingo, 14 de julho de 2013

Capítulo 7 – Mary

Jake e Mary, http://jakeemary.blogspot.com, Amor,
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Capítulo 7


Mary


 

 
No dia seguinte, aconteceu o que a Safira previra! Encontrei a mulher da minha vida, embora nunca mais tivesse pensado no que ela dissera até ao momento em que a vira! Foi amor à primeira vista, nunca acreditei nisso porque pensava ser impossível. Porém, estava enganado.
 
Tudo se passou assim…  
 
Acordei cedo e como de costume fui para a praia. Queria ver nascer o dia e estar um pouco sozinho com a natureza, a meditar e a agradecer o meu primeiro campeonato. Vi um nascer do sol lindo, com cores maravilhosas. Quem me dera ter uma câmara Polaroid comigo para fotografar aquele momento, assim ficava registado para mais tarde recordar. Este era um sonho que tinha e que tencionava concretizar um dia.  

Depois fui para casa tomar o pequeno-almoço com a minha Mãe. Quando saí de casa ela ainda dormia e dali a uma hora iria trabalhar. A minha Mãe trabalhava na estação de comboios de Huntington. Sabia que ela não andava nada satisfeita com a vida que eu estava a ter, mas não interferia. Além disso, tinha saudades de estar com ela.
 
─ Ora viva! Onde estiveste?! Não me digas que já foste surfar hoje?! Agora não te interessas por mais nada! ─ Exclamou aborrecida.
 
─ Bom dia, Mamã! Fui só até à praia ver o amanhecer. Vi o sol nascer, foi tão lindo.
 
─ Vê lá se me convidaste para ir contigo…
 
─ Desculpa, não quis acordar-te. ─ Disse abraçando-a.  
 
─ Vá, vamos comer senão atraso-me para chegar a horas no trabalho.  

Sentámo-nos, era panquecas com compota de morango. O meu pequeno-almoço favorito e também havia sumo de cenoura. Uma delícia!  
 
─ Hmmmm, estão deliciosas estas panquecas! Já tinha saudades disto, Mamã! Tão bom…
 
─ Doidinho, fiz a outra semana. Não te lembras?
 
─ Sim, mas é que gosto tanto, Mamã.  

─ Eu sei, Amor. ─ Ciara, observava o filho a deliciar-se com as panquecas. Parecia uma criança a comer, até lambia a compota de morango dos dedos. ─ Filho, quem era aquele homem com quem estavas a falar ontem ao portão?  
 
─ Era o Andy.

─ Hmmm, ok. Ele é daqui?
 
─ Acho que sim, porquê?  
 
─ Curiosidade,… sei lá. Acho que nunca o vi por cá! Mas também não deu para ver bem, ele não saiu de dentro do carro.  

─ Pois não. Ah e por falar nele, hoje devo vir tarde para jantar. Temos de dar cera nas pranchas, inclusive na minha.  
 
─ Ok. Surfar, surfar, surfar… Agora não fazes mais nada! Estou para ver que futuro vais ter no surf!  
─ Não te preocupes, Mamã. Vai tudo correr bem, o Andy tem-me ajudado muito!  
 
─ Pois e essa também é outra, agora também só falas nesse gajo!
 
─ Mãe, o Andrew é fixe! Calma. Não estejas preocupada, eu não sou gay e ele também não! ─ Respondi a rir.  

─ Ok. Temos de combinar para ele vir jantar um dia destes para conhecê-lo.  
 
─ Ok, eu falo com ele a ver o que é que ele pensa sobre isso. O Andy é um bocado reservado e é como um eremita, não gosta muito de jantares familiares.
 
─ Não tem família?
 
─ Não sei, vive sozinho.
 
─ Não tem mulher, namorada?
 
─ Nem namorada, nem mulher. Ele não se prende a ninguém. Agora tenho de ir, Mãe. Até logo. ─ Disse olhando para o relógio e dei-lhe muitos beijinhos no rosto.  

─ Está bem, está bem mas jantas em casa, não é?  
 
─ Sim, Mammy. Mas mais tarde, ok? Até logo e bom trabalho.

─ Até logo, filho.
 
No entanto, o tempo mudou e o mar estava flat, não havia ondas. Então, fiquei a ajudar Andy com as pranchas e também conversamos muito. Gostava de conversar com ele, era o meu mestre de surf, mas para mim, Andy, era como se fosse um pai. Se tivesse tido um pai, gostava que fosse como ele.  
 
─ Andy, a minha Mãe disse-me que gostava muito que jantasses connosco.  

─ Jantar? Quando? E porquê? ─ Interrogou-me ele sem erguer os olhos da prancha que estava fazer.  
 
─ Bem, quando não sei. Quando puderes, acho eu. O porquê, é porque a minha Mãe quer conhecer-te, para agradecer-te por me estares a ajudar. Acho eu.
 
─ Achas tu? Então, não foi ela quem te disse isso? ─ Perguntou intrigado.  

─ Não, ela não disse propriamente isso. Mas eu penso que é assim, porque tens-me ajudado muito.
 
─ Ok, por mim pode ser. Quando ela quiser, que diga.  

─ Combinado, agora tenho de ir.  
 
─ Ok, até amanhã, puto.
 
─ Tchau, Andy.  
 
Fui directamente à mercearia comprar umas coisas que a minha Mãe me tinha pedido e que eu já não me lembrava. Lá encontrei o Mike Levy que era um dos meus maiores amigos, desde o infantário. Mas ele não estava sozinho, com ele estava uma bonita rapariga. Talvez fosse a rapariga mais bonita que já tinha visto. O nosso olhar cruzou-se de repente e ela sorriu para mim. Tinha olhos verdes como eu, mas os dela eram ainda mais intensos e eu apaixonei-me. Seus olhos lembravam-me o mar e eu queria mergulhar neles. Correspondi àquele olhar e nesse preciso momento, eu soube que era ela. Fiquei perplexo.  

Mike viu-me e acenou-me. Os dois avançaram na minha direcção. Senti-me meio nervoso, as minhas mãos ficaram molhadas e fiquei com o coração aos pulos. Como não queria fazer figura de urso, tentei parecer o mais descontraído possível, avançando também para eles.
 
─ Hey, Mike! Como estás, meu? Há muito tempo que não te via! ─ Exclamei cumprimentando-o com uma palmadinha nas costas.  
 
─ Está tudo bem, meu. Olha esta é a minha prima, Mary Levy.  

─ Olá Mary, muito prazer ─ disse estendendo-lhe a mão que ela agarrou e apertou, olhando-me intensamente.  
 
─ Mary, este é o Jake O'Malley. ─ Disse Mike, apresentando-me.

─ Olá, Jake! Como estás? Mike, és tão esquecido, céus! Eu e o Jake conhecemo-nos há muito tempo, desde pequenos. Lembras-te Jake, brincávamos muito no recreio? Jogávamos todos às escondidas nas dunas à tardinha.  
 
─ Ah, sim… ─ respondi corado e confuso, não me lembrava de nada daquilo que Mary estava a dizer, mas disfarcei para que ela não percebesse. Mike, também não se lembrava de nada, mas ele não contava, pois esse, já era seu costume. Além de distraído, era muito esquecido. Às vezes, metia-me com ele e dizia que ele estava a ficar senil. Ele ficava lixado comigo!
  
De seguida, despedimo-nos e cada um foi para sua casa. Mary, que nome lindo. Não tinha notado como este nome era especial, até reencontrá-la. Entrei em casa a assobiar e peguei a minha Mãe pelo braço, puxando-a para dançar.  
 
─ Eia, estás muito bem-humorado! ─ Exclamou a minha Mãe.  ─ Que se passou hoje contigo?

─ Nada, só estou feliz. ─ E sorri.
 
─ Hummm, nunca te visto tão alegre nos últimos tempos… mistérios da vida!  
 
─ Não é nada de especial, Mammy. O campeonato está quase e eu estou feliz.

─ Ok, Jake, vou fingir que acredito que é por causa do campeonato de surf. Mas cá para mim, estás apaixonado ─ disse a minha Mãe.
 
Eu que estava a beber leite naquele momento, acabei por me engasgar e neguei. Bem, que pontaria que a minha Mãe tinha! Uau, que tiro certeiro! Na mouche! Aquilo é que era intuição forte!  
 
No entanto, eu não me desmanchei e fiz que não era nada comigo. Não entendia o que se estava a passar, portanto, era melhor não falar no assunto.  

Nessa noite, mal dormi. Mary, surgiu nos meus sonhos e ao beijá-la acordei… Já não preguei mais o olho o resto da noite, o relógio marcava 3 horas!  
 
Subitamente, lembrei-me do que Safira tinha dito. Seria Mary?! Não tinha a certeza, mas gostava que fosse. Era tão linda… suspirei pensando nela e levantei-me da cama, olhando a lua pela janela que era enorme e brilhava intensamente. Será que estava apaixonado? Não podia ser, não assim!
 
Contudo, Mary não saía da minha cabeça. Dei por mim a imaginar-me a ganhar o campeonato de surf aqui em Huntington e Mary, estava a apoiar-me vestida, somente com o seu biquíni. Queria que Mary tivesse orgulho em mim. Planeava pedi-la em namoro oficialmente na noite da prova, mas eu era um pouco tímido com as raparigas, principalmente quando gostava delas. Os rapazes, incentivavam-me e estimulavam a minha ousadia, então, aí, eu avançava. Contudo, com Mary era diferente. Ela era especial e munido por este pensamento, tinha receio que ela recusasse o meu pedido.
 
Atirei-me para cima da cama e fechei os olhos, tentando dormir. Porém, os meus lábios sussurravam o seu nome baixinho. Mary, chamava-a com o pensamento…
 
 
CONTINUA NO PRÓXÍMO CAPÍTULO...
(Próximo Capítulo a Publicar: Domingo, dia 21 de Julho de 2013)
 


domingo, 7 de julho de 2013

Capítulo 6 – De Volta A Casa

Jake e Mary, Chevy Truck 1960, http://jakeemary.blogspot.com
Foto encontrada neste site

Capítulo 6

 

De Volta A Casa

 
─ Então, puto? Como foi? ─ Perguntou Andy curioso, esfregando as mãos uma na outra.
 
─ Foi uma consulta, apenas. Nada de mais. Já está tudo arrumado?
 
─ Yeap, só falta entrarmos aqui na Chevy e rumar até a casa.
 
─ Ok. Olha, desculpa não ter estado aqui para te ajudar com as coisas.
 
─ Deixa lá isso, Jake. Mas vá lá, conta como foi.
 
─ Foi confuso… Ela leu-me as cartas e falou-me no futuro, porém, houve coisas que não percebi nada.
 
─ Confusa? Então, não houve sexo??
 
─ Claro, que não. Foi uma mera consulta de tarot, uma treta, isso sim! Até meteu uma bola de cristal, vê lá tu bem! ─ Entramos os dois para o carro e iniciamos a viagem de regresso.
 
─ Uau! A sério? Espetáculo!
 
─ Mas agora não me leves a mal, não me apetece falar, estou cansado e com sono.
 
─ Ok, puto. Descansa, então.
 
A minha expressão facial era de indignação, ainda que estivesse calado. Durante mais de meia hora, pensei e repensei, no significado de tudo aquilo. Não tinha entendido que mulher era aquela que Safira mencionara. Por mais que pensasse, aquilo não fazia sentido. As perguntas voltaram a assaltar o meu espírito. Andy, tinha-se calado respeitando o meu silêncio e parara de insistir para que lhe contasse o que havia acontecido. Fechei os olhos na tentativa de adormecer e esquecer o assunto, mas foi completamente inútil. Não conseguia deixar de pensar.  

─ Andy, preciso de falar…
 
─ Então, que se passa, meu?  

─ Não consigo parar de pensar no que Safira me disse durante a consulta de tarot.
 
─ Ah sim? Então, porquê? O que foi que ela viu para o teu futuro, foi mau?

─ Nem sei, não percebi umas coisas que ela disse. Falou-me numa mulher que diz que é o amor da minha vida. No entanto, eu nunca estive assim apaixonado como ela descreveu. As minhas relações não têm sido estáveis, não duram mais que um par de semanas!
 
─ Não será alguma miúda que vais conhecer ainda?  

─ Não sei, porque ela disse que é um amor do passado que volta.
 
─ Ah, então pronto. Vocês já se conhecem, é isso?
 
─ Pois, acho que não… Ela disse que é um amor de vidas passadas, falou-me em reencarnação!  

─ Humm, muito interessante.  

─ Interessante, achas?  

─ Sim, acho. Porquê?
 
─ Porque eu não acredito nisso. São tudo tretas!  

─ Ok, então se são tudo tretas e não acreditas, porque é que ainda estás a pensar nisso? Porque estás tão confuso, Jake?  

─ Não sei… Tu acreditas em reencarnação?
 
─ Acredito, sim. Nós temos muitas vidas, não temos só esta. Reencarnamos para experienciarmos, para resgatarmos dívidas passadas. Só assim evoluímos espiritualmente, Jake. Está tudo ligado. Estamos todos ligados. Somos todos um. Lembra-te sempre disto. Essa mulher que Safira te falou, talvez seja a tua Alma Gémea. Isso é fantástico, meu!
 
─ Alma Gémea?! Outra treta, ‘tou a ver.
 
─ Éh pá, já me ‘tás a fazer passar com essa cena de ser “tudo treta”! Mas que raio! Porque é que falas assim sem conhecimento nenhum? As Almas Gémeas existem sim e abençoado é aquele que reencontra a sua neste plano, vencendo as adversidades e consegue viver em comunhão com o seu par.
 
─ Ok, ok, desculpa Andy. Fala-me um pouco acerca das Almas Gémeas. Estou aberto, pronto. As Almas Gémeas têm relacionamentos perfeitos?
 
─ Sim e não, Jake. A Terra, o nosso planeta é um lugar de provas e portanto, a perfeição não existe neste plano. Nós reencarnamos para aprendermos a ser perfeitos. Alguns de nós e dependendo da nossa aprendizagem em vidas anteriores, temos a felicidade de encontrar a nossa Alma Gémea. Às vezes, ela vem para ajudar-nos na nossa evolução espiritual, outras vezes somos nós que a temos de ajudar. Geralmente, o que está mais evoluído espiritualmente é que ajuda. Porém, quando desencarnamos, ou se preferires quando morremos, reunimo-nos com a nossa Alma Gémea no plano Celeste e o Amor, esse, é perfeito.  

─ Hmmm, interessante… Como é que sabes tudo isto? ─ Perguntei com verdadeiro interesse.  

─ Li em alguns livros.  

─ E esses livros são teus?
 
─ Não, emprestaram-me. Foi quando estive no Brasil, que me falaram nisto.  

Entretanto, estávamos a chegar a casa e a nossa conversa ficou por aqui. Andy, pediu-me para lhe indicar onde morava. Queria deixar-me em casa. Primeiro ofereci resistência, porque não achava sentido que ele descarregasse o carro sozinho, mas ele acabou por convencer-me. Então indiquei-lhe o caminho e ele fez uma cara de admiração, quando entramos no bairro onde eu habitava.  

─ É neste bairro que moras? ─ Perguntou surpreendido.
 
─ Yeap! Porquê, conheces?  

─ Sim, houve tempos em que vinha aqui todos os dias quase!
 
─ Ah, sim? Então, alguma das tuas namoradas moravam aqui?
 
Andy, não respondeu. Ficou em silêncio contemplando o bairro maravilhado com olhar sonhador. De seguida, pedi para ele virar à esquerda e quando estávamos a chegar à minha casa, pedi-lhe para parar.  

─ É aqui, podes parar.
 
Ele fez uma cara de surpresa, como se já conhecesse este lugar.
 
─ É esta a tua casa?!
 
─ Sim, é. Porquê, já aqui estiveste?
 
─ Não, claro que não… ─ Respondeu com pouca firmeza. ─ Há quanto moras aqui nesta casa?  

─ Há 17 anos, desde que nasci. Quando a minha Mãe me teve já morava aqui. Porquê, Andy?
 
─ Por nada, curiosidade… ─ respondeu meio atrapalhado.
 
Parecia nervoso. Agradeci-lhe por tudo e despedimo-nos até ao dia seguinte. E ele lá foi para sua casa. Que reacção estranha, a dele. Porque tinha ficado nervoso? E porquê tanta pergunta? Mistério…
 
Ao entrar em casa contei a novidade à minha Mãe, que ficou feliz e muito orgulhosa, embora não tivesse gostado da viagem repentina e nem dos 5 dias que estive fora. Ela não admitiu que não queria que eu fizesse a viagem para Venice, mas nem era preciso. Eu conseguia ler no seu olhar. Ela queria que o seu filho estudasse e tivesse um bom emprego, mas tentava não me privar de sonhar e nem de concretizar os meus sonhos. Dizia-me sempre que cada ser tem o seu Livre Arbítrio, as suas escolhas e o seu caminho. Portanto, ninguém tinha o direito de impedir os sonhos do outro. Amar é libertar, permitir que o outro voe para que um dia possa voltar. Não entendia ainda este pensamento, mas a minha Mãe dizia que quando eu me enamorasse verdadeiramente, compreenderia. Não lhe falei na consulta da taróloga, precisava de tempo para analisar tudo. Contudo, em relação ao meu futuro já tinha decidido que esta seria a minha vida e com 17 anos tinha plena consciência disso. Nada e nem ninguém me iria fazer mudar de ideias.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO…
(Próximo Capítulo a Publicar: Domingo, dia 14 de Julho de 2013)

 


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