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Capítulo 19
O Plano
Entrámos no
jardim da casa de Mary e toquei à campainha. O mordomo abriu-nos a porta. Após
apresentarmo-nos e de anunciarmos ao que vinha-mos, o mordomo encaminhou-nos
para a sala, disse-nos para sentarmo-nos e pediu-nos para esperar. Ele ia
chamar Hannah e Joshua Levy, os patrões, ─ ou seja os pais de Mary. Nós assim o
fizemos, sentamo-nos no sofá e esperamos em silêncio. Andy, olhou-me e
percebendo o meu nervosismo, disse num murmúrio:
Sábado, segundo
dia do Campeonato de Surf, da Praia de Huntington. As provas desse dia
correram-me muito bem, apesar de ter dormido pouco na noite anterior… Porém,
estava concentrado e confiante. Fazer amor com Mary, reequilibrava-me as
energias a vários níveis. Sentia-me sempre renovado. Consegui fazer alguns drops,um swell e um tubo,o que me remeteu directamente para a primeira posição Ex équo com o
concorrente Australiano, Tommy Storm.
Cheguei à nossa
gruta à hora que Mary marcara através do seu bilhete. Meia-noite. Era noite de
Lua Nova e estava escuro como breu, custava-se a distinguir o areal, o mar e as
rochas.
Olhei na direcção
onde Mary surgia sempre e aguardei que ela aparecesse, extremamente ansioso. No
meu peito, o coração batia em sobressalto! Sentia-me tão nervoso e tão inseguro,
como alguma vez me havia sentido. As dúvidas e o medo assaltavam-me pela
primeira vez em relação a Mary… “E se ela não vier? E se não nos vermos mais? E
se...”, mil pensamentos pairavam na minha mente, acordando o pânico dentro de
mim, assim com o medo, sentimento estranho que desconhecia possuir, ou não
fosse eu “Jake ─ O Destemido”.
No fim da tarde,
Mike veio ter comigo para felicitar-me. Tinha passado à segunda fase do
campeonato, que se disputaria no dia seguinte. Estava em 2º lugar, mas ao
contrário do que pensava não estava feliz. Tudo o que tinha imaginado para
aquele dia, não estava a sair como sonhara. Afinal, Mary, não me tinha vindo
ver conforme me dissera antes. Porquê, não sabia, mas com certeza algo se
passara.
─ Parabéns, meu!
Tu mereces! ─ Exclamou Mike ao chegar perto de mim, abraçando-me.
─ Obrigado… ─
Disse piscando-lhe o olho, com um sorriso amarelo.
─ Que foi, que
sorriso é esse? Pensava que estavas feliz…
─ Pois, também eu
pensava que estivesse feliz hoje e afinal, enganei-me inevitavelmente…
─Que tens, Jake?
─ Estou
preocupado, Mary, disse que viria ver-me e até agora não apareceu.
─ Chiii, Jake,
desculpa. Toma lá, já me estava a esquecer de dar-te isto ─ disse Mike,
entregando-me um bilhete.
Três dias mais tarde, levantei-me muito animado. Durante 3 dias teríamos na Praia de Huntington o
8º Campeonato de Surf, que se realizava anualmente. Este era um evento muito
popular na região, Huntington enchia-se sempre com turistas dos quatro cantos
do mundo, principalmente, de Países como: Austrália, Nova Zelândia, Havai e
Taiti. Uns compareciam como participantes, outros como apoiantes e
espectadores.
─ O que significa
isto?! ─ Exclamei estupefacto, ao encontrar seminus, a minha Mãe e o Andrew
Johnson deitados na cama dela.
─ Calma, Jake…
Calma, não é nada disso que estás a pensar… ─ disse Andy, levantando-se da cama
imediatamente, precipitando-se a vestir a sua roupa caída no chão.
A minha Mãe,
permaneceu toda a noite apoiando a amiga e vizinha Jane Campbell, na vã tentativa
de consolá-la. Como se consola uma pessoa que perde o seu amor, mais a mais,
numa guerra estúpida e sem qualquer sentido? O que se diz, ou o que se deve dizer não sei, acho até
que ninguém sabe. Mas penso que devemos deixar que o coração fale naquele
momento. As palavras que provêm do coração, são as mais indicadas porque são
ditas com amor verdadeiro.
Ao
pequeno-almoço, a minha Mãe e eu pusemos a conversa em dia. Falei-lhe da viagem
e do que acontecera na prova de surf, cuja qual fora forçado a desistir devido
ao embate do outro concorrente, que me partiu a prancha, sendo eu também penalizado.
─ Essas coisas
acontecem, filho. Não te chateies com isso. Agora tens é de comprar uma prancha
nova, tens dinheiro?
─ Não. Mas Mãe,
nesse ponto não há nada a recear. Andy, também é shaper. Ele faz-me uma nova prancha, tenho é de ir ter com ele hoje
depois do almoço, para ajudá-lo.
A minha Mãe ficou
mais tranquila e disse-me para convidar Andy para jantar connosco esta noite.
─ Ok, eu
digo-lhe.
Seguidamente,
foi-se embora. Estava na hora de entrar ao serviço.
Enquanto arrumava
a cozinha, na televisão falavam na guerra do Vietname nas notícias. Milhares de
rapazes morriam neste conflito estupido e pedia-se mais voluntários para combater. A
maioria dos rapazes da minha idade, tinham sucumbido e cedido à tentação, de
serem combatentes e heróis de guerra, tornando-se assim, voluntários. Outros foram simplesmente convocados
para ir, não podendo usar o seu livre-arbítrio para escolher. E eu, também
poderia escolher, ou estava-me velada tal opção? Desconhecia a resposta por ora.
Deitei-me lá fora
na rede, uma brisa fresca soprava e as nuvens corriam pelo céu loucamente,
unindo-se umas às outras formando um lençol cinzento. O tempo estava a mudar,
uma tempestade de Verão vinha a caminho. O mar agitava-se na fúria das ondas,
que se debatiam de encontro às rochas e apaixonadamente beijavam com
intensidade a areia da praia. Ao longe, começava a trovejar. Todo este cenário
era lindo e assustador simultaneamente.
Após trancar
as portas e as janelas, levantei-me da minha cama de rede na varanda e fui ter com
Andy, que se encontrava no barracão. Estava a fazer a prancha. Esta era bem diferente
da anterior que possuíra. Era mais pequena e mais maneirinha.
─ Hey, Jake! Tudo
bem? E que tal, gostas da tua nova prancha? É uma fish, um modelo moderno. Vai ajudar-te a ter mais equilíbrio e
permitir-te ser mais rápido a cortar as ondas!
─ Está muito
porreira, Andy! Fixe! Gosto imenso. Obrigado.
Estava quase
pronta, era só mais dois dias, talvez e já podia usá-la cavalgando as ondas.
Ficámos a imaginar como este modelo seria bom para mim, seria até vantajoso nas
provas e segundo o Andy, facilitava muito ao remar, pois era mais leve e
deslizava melhor.
─ Andy, a minha
Mãe convidou-te para jantares connosco esta noite.
─ Ah, está bem. A
que horas?
─ Às 21h30. Pode
ser?
─ Sim, pode sim.
Lá estarei. Levas a Mary?
─ Não.
─ Porquê, Jake?
─ A minha Mãe
ainda não sabe, nem os pais dela.
─ Porque não
contas?
─ É cedo, meu.
Queremos fazer as coisas como manda a tradição e como está na religião dela.
─ Hmmm, sabes,
vais ter que te converter ao judaísmo…
─ Quem, eu? Nem
tenho religião, meu!
─ Pois, mas se
queres fazer as coisas como deve ser, vai ter de ser assim. Como é que vocês
estão? ─ Indagou Andy, estendendo-me uma cerveja. Depois sentou-se na bancada,
perto da prancha.
─ Estamos bem.
Ontem pedi-a em namoro!
─ Sério? E ela,
aceitou?
─ Aceitou, amigo.
E então,
falei-lhe do incidente na casa dela. Ele divertiu-se com a história, mas
advertiu-me para ter cuidado. Se os pais dela soubessem de tudo, antes de nós
contarmos, seria péssimo para o nosso amor. Eles poderiam não aceitar.
De seguida, fui
para casa e despedi-me do Andy, com um até já, lembrando-o do jantar em minha
casa. Às 21h30, a campainha da porta tocou e como estava a terminar de escrever
no bloco de notas, um verso para fazer um poema para a minha amada, gritei para
a minha Mãe ir atender. Ela murmurou qualquer coisa que não entendi, mas foi e
de seguida ouvi-a gritar como se se tivesse assustado, ouvi ainda uma coisa
cair no chão, que se partiu estilhaçando-se e, largando tudo, corri aflito até ela.
─ Que aconteceu?!
─ Exclamei confuso, ao encontrar a minha Mãe desmaiada no chão e Andy, de volta
dela tentando socorrê-la.
Andy, balbuciou
um “Não sei…”, que me deixou desconfiado de que ele sabia alguma coisa que
estava a esconder-me e quando a minha Mãe recuperou os sentidos, ao
perguntar-lhe o motivo do desmaio, ela disse que tinha tido apenas uma quebra
de tensão.
No chão havia
estilhaços de cerâmica e bocados de batata por todo o lado, Andy ofereceu-se
para ajudar-me a limpar, mas em silêncio.
O jantar, correu
bem mas havia ali algo que me estava a escapar… A minha Mãe parecia evitar o
contacto visual com Andy e ele, seguia o seu exemplo. Durante a conversa, só eu
é que falava e quando me calava, ficava um silêncio muito tenso.
─ Vocês já se
conheciam antes? ─ Arrisquei perguntar.
Então, Andy
engasgou-se subitamente e ninguém respondeu à pergunta, porque entretanto,
Jane, ─ a nossa vizinha, ─ entrou em nossa casa desfeita em lágrimas, anunciando
que o seu marido Thomas tinha sofrido um atentado no Vietname, tendo morte
imediata…
A minha Mãe
amparou Jane e o jantar terminou por ali. Ela tinha de dar apoio à amiga. Andy,
foi para casa e ficou combinado que conversaríamos melhor no dia seguinte.
Deitado na cama,
pensava em tudo o que tinha acontecido e quanto mais pensava, mais estranhava. De
certeza que eles se conheciam, mas de onde?
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
(Próximo Capítulo a Publicar: Domingo, dia 25 de Agosto de 2013)
Chegámos de
madrugada a Huntington, Andy deixou-me à porta de casa.
─ Pronto, puto,
estás em casa.
─ Obrigado, Andy.
─ Vá, vai
descansar. Amanhã temos a tua prancha para fazer.
─ É verdade.
Amanhã, ou logo?
─ É logo, mas
como ainda não dormi, acabo sempre por dizer amanhã.
─ Pois, entendo.
A que horas queres que apareça?
─ Às 14h00, dá
para ti?
─ Sim, claro.
Vejo Mary de manhã e depois vou ter contigo.
─ Ok, então
ficamos assim. Até logo!
─ Tchau, Andy ─ e
a carrinha arrancou prosseguindo a sua curta viagem.
Abri o portão e parei,
olhei o céu estrelado. “Mary…”, murmurei baixinho. Estava com saudades dela. O
relógio marcava 4h30, não tardava muito para o sol nascer saudando o novo dia. Mas
ao mesmo tempo, sentia que faltava uma eternidade para estar com ela. “O que
fazer então? Vou dormir, ou vou ter contigo?”, questionei-me pensando em voz
baixa.
Saí pelo portão,
fechando-o atrás de mim decidido a ir até à janela do quarto dela. Depois, logo
veria o que faria. Se ela estivesse acordada, seria óptimo. No entanto, era
mais provável que estivesse a dormir. Ela não sabia que eu chegava hoje, nem
quando chegaria, por isso, não contava que estivesse acordada. O meu coração
batia descompassado, chamando o seu nome como se cantasse a mais doce das
melodias de amor.
Subi o muro da
casa dela e como estava ainda muito escuro, coloquei mal o pé e ao galgar o
muro esfolei a perna, ferindo-a. Gemi um pouco mais alto que devia, sentindo o
sangue morno escorrer da ferida. As luzes da casa acenderam-se e eu corri pelo
jardim, para me esconder. Olhei procurando a mangueira para me lavar, estava
perto do baloiço. “Óptimo”, pensei “assim, posso lavar-me”. De seguida a porta
abriu-se e eu encolhi-me atrás do roseiral, que ao agachar-me bruscamente, me fez picar o braço na
roseira. Olhei e vi um homem de meia-idade, de roupão de
seda azul-escuro e com pijama, com chinelos castanhos.
─ Quem está aí? ─
Perguntou.
Mantive-me em silêncio
e escondido.
─ Joshua, está aí alguém? ─ Ouviu-se uma
voz feminina, do interior da casa.
─ Eu pensava que
sim, pelo barulho. Contudo, não vejo ninguém, Hannah. ─ Respondeu o homem.
─ Deve ter sido impressão tua. Anda deitar-te,
ainda acordamos a vizinhança por nada…
─ Tens razão,
Hannah. Já estou a ir, Amor… ─ e voltou para casa, fechando a porta. Aguardei
que as luzes da casa se voltassem a apagar, para me lavar e sair rápido dali. Aquele
homem, devia ser o pai de Mary e a voz da mulher que se ouviu, devia ser da mãe
dela. Tinha de me despachar e ir-me embora o quanto antes. Não seria bom encontrarem-me ali àquela
hora da madrugada, conhecendo-me como namorado da sua única filha. Isto poderia
trazer problemas para nós, certamente.
Assim, mal se apagaram
as luzes corri cautelosamente até à mangueira, lavei-me e é ao fechar a torneira,
que alguém me toca no ombro. “Fogo, já fui apanhado”, exclamei em
pensamento.
─ Estás caçado!
Era Mary,
voltei-me para ela e beijei-a apaixonadamente.
─ Assustaste-me,
Amor!
─ Eu sei, fiz de
propósito! ─ Exclamou com um sorriso maroto. Vem comigo, ─ disse pegando-me
pela mão. Fomos para as traseiras da casa dela, onde estava a piscina.
─ Pensei que
estivesses a dormir.
─ Nãaaa, nem
podia mesmo. Sabia que chegavas hoje e, depois, chamaste-me. Eu ouvi.
─ Como assim,
ouviste? ─ Perguntei intrigado.
─ Vais dizer que
não me chamaste?!
─ Chamei-te em
pensamento, quando vinha para aqui. Não foi em voz alta!
─ Eu sei, Amor.
Eu senti, no meu coração. ─ E beijou-me saudosa. ─ Amo-te tanto. Nunca duvides
disso.
─ Claro que não,
Mary. Também te amo muito.
─ Agora deixa-me
tratar-te esses arranhões.
─ Vai doer…? ─
Perguntei a medo.
─ Não acredito
que me perguntaste se vai doer!
─ Porquê?
─ Simples,
pareces um bebé grande! ─ E riu-se troçando de mim. ─ Sim, vai doer um pouco.
Mas depois, eu dou beijinho e o doi-doi sara.
Abracei-a contra
o meu peito e olhei-a profundamente nos olhos.
─ Amo-te, Mary.
Para sempre.
─ Ena, ena! Isso
tudo é por te tratar do doi-doi, é, meu bebé?!
─ Não. Isto tudo é
por te amar. Tenho uma coisa para ti, mas não sei se vais gostar… ─ Introduzi a mão
no bolso e dei-lhe um anel. ─ Não é ouro, não tenho dinheiro para comprar-te
um desses, ainda. Mas é simbólico… Mary, queres namorar comigo? ─ Ajoelhei-me a seus pés
declarando-me.
─ É lindo, Amor!
Adoro e sim, quero namorar contigo, amo-te ─e beijámo-nos apaixonados.
Meia hora mais tarde,
deitei-me feliz na minha cama. Mary, era minha namorada.
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
(Próximo Capítulo a Publicar: Domingo, dia 18 de Agosto de 2013)
Faltavam duas semanas
para o campeonato de surf da minha
região e os treinos continuavam. Treinava todos os dias intensamente, queria
ficar bem qualificado e Andrew sabia bem como puxar por mim. Mas antes deste
campeonato, houvera outro onde participei. Porém, desta vez não me correu tão
bem, como da primeira vez em Venice… Partimos para San Diego, directamente para
a praia de Ocean Beach. Foram cerca 5h00, 142 Milhas/228Km de distância de casa
até lá, porque tivemos de parar uma hora para Andy descansar. Esta viagem foi um
bocado mais longe e mais longa, do que eu pensava. Andy disse-me que deveria
acostumar-me, porque havia uma grande tendência para estas viagens serem cada
vez mais longas e demoradas.
Passei a maior
parte do caminho da viagem a San Diego a pensar em Mary. Estava completamente
apaixonado. Mary vinha ver o meu treino ao fim da tarde, depois ficávamos a
namorar e a conversar um pouco. Todos os dias acompanhava-a a casa ao
anoitecer. O nosso namoro era estável e harmonioso, brincávamos e riamos muito
nos nossos encontros. Porém, na noite da nossa despedida ela veio ter comigo. Disse
que teria muitas saudades minhas, do meu abraço, dos meus beijos… Eu respondi
que também ia ter saudades e então, começamo-nos a beijar. Durante o passeio ao
luar, os nossos beijos tornaram-se ardentes, apaixonados e então entrámos para
dentro da gruta. As carícias eram cada vez mais intensas e o desejo de a ter, aumentava
vigorosamente dentro de mim. Percebendo o meu desejo, Mary empurra-me e dizendo
que me ama, sai a correr para casa. Desconcertado, chamo-a e ela pára, volta-se
dizendo apenas:
─ Depois!
E continuou correndo em
direcção a casa. Queria mais, queria conhecê-la por dentro e saciar o nosso desejo.
Inicialmente as
coisas estavam a correr bem, no campeonato em Ocean Beach. Já estava no 2º
lugar e com uma excelente pontuação. Andy e eu, estávamos muito animados.
Porém, surgiu um problema que me forçou a desistir do campeonato e regressarmos
a Huntington inesperadamente. Um surfista extremamente ganancioso chocou contra
mim, para apanhar a onda que eu já havia apanhado e que estava a dropar na perfeição! O resultado disto
foi uma prancha partida, a minha, e a desqualificação do outro concorrente não
somente na prova, como também do campeonato! Os juízes estavam atentos. Contudo,
sem prancha não poderia continuar e como só tinha aquela, tive de desistir e
regressámos a casa mais cedo.
A inveja é realmente
um caso sério e eu detestava desistir. Para mim, desistir era pior que perder,
porque quando se perde é sinal de que participámos de algo, sinal de que
tentámos. Enquanto que a desistência é um abandono e demonstra que a pessoa não
tem capacidade, nem tem competência para lutar pelos seus objectivos.
Fiquei chateado e
meio amuado durante grande parte da viagem de regresso, Andy respeitou o meu
silêncio até um certo momento. Mas depois, ele falou na tentativa de me
tranquilizar.
─ Deixa lá, Jake,
não te preocupes. Eu faço-te uma prancha nova, daquelas mesmo à maneira e podes
participar do campeonato em Huntington.
─ Tu não entendes,
meu. Não gosto de desistir de nada nesta vida.
─ Tinhas outra
alternativa?
─ Nop e é
precisamente isso que mais me chateia!
─ Ganhar, perder
e desistir faz tudo parte do mesmo.
─ Não, não faz!
─ Claro que faz,
puto. Repara que para se desistir de algo, primeiro tem que se participar. Sem
participação não há vitória, nem derrota e muito menos desistência. Não há
nada, percebes?
─ Sim, mas
desistir mostra falta de capacidade e falta de Fé.
─ Nem sempre, meu
amigo. No teu caso, não foi nada disso. Desistimos porque não tinhas a
“ferramenta” principal para continuares na competição. Partiu-se a prancha, foi
um acidente e acidentes acontecem.
─ Mas isto não
foi um acidente! Ele fez de propósito!
─ Disparate,
claro que foi um acidente. Ele não queria ser desclassificado, não te parece? O
que ele queria era a onda e nada mais, mas nem sempre as coisas são como nós
queremos.
─ É bem-feito
para ele ter sido penalizado!
─ Jake, cuidado
com esse ódio. Olha que quando ficas contente com a desgraça alheia, ou desejas
mal aos outros, isso vem para ti. É a lei do retorno e esta é como um boomerang, o que dás é-te devolvido em
dobro. Não importa que tipo de sentimento seja usado, esta é a lei universal.
Então, calei-me.
Reflecti em tudo o que Andy me estava a dizer. Ele parecia ser apenas um
surfista reformado, um simples surfista, mas quando ele falava assim parecia um
filósofo, um mestre espiritual. Andy, continuou:
─ Jake, há
momentos na vida em que somos obrigados a desistir do que mais queremos, até
dos nossos sonhos, mesmo de um grande amor…
─ Já foste
forçado a isso? ─ Perguntei cauteloso. Pelo olhar triste de Andy, compreendi
que ele não se estava a referir à sua carreira de surfista, mas sim à tal
mulher.
─ Sim, fui. Mas
tal como tu, não tive opção.
─ Foi um grande
amor?
─ Sim.
Apaixonei-me por uma linda rapariga numa quente noite de Verão. Foi amor à
primeira vista, ela era divertida, dinâmica e independente. Estava por cá de
férias na casa dos pais. Ela também gostou de mim assim que me viu, o nosso
olhou cruzou-se e… bum! Apaixonámo-nos e foi fulminante! Comecei a namorar com
a Red 3 dias depois…
Cheguei à praia e vi-a no pontão, Mary olhava o mar abraçando-se a
si mesma. O sol deitava-se no oceano, onde fizera das ondas o seu leito e
esperava pela sua tão amada lua. O vento despenteava os cabelos longos de Mary e
fazia o seu vestido de Verão, verde água, esvoaçar, como se bailasse ao som de uma música
celeste. Permaneci contemplando-a por breves segundos e depois, caminhei até ao
seu encontro. Ao ver-me, correu para mim e abraçou-me, beijando-me e pedindo-me
que a abraçasse:
─ Abraça-me, Jake.
Perante aquele pedido, abracei-a mas fiquei preocupado. Ela
parecia assustada. Ficamos assim abraçados durante alguns momentos, em silêncio
e senti-a tremer. Estava a chorar, a minha t-shirt azul ficou molhada com as
suas lágrimas.
─ O que tens, Mary? ─ Perguntei preocupado.
─ Jake, tenho que te dizer uma coisa mas não sei como fazer isso,
porque nunca o fiz antes… ─ Disse limpando os seus olhos, agora mais verdes e
intensos como nunca havia visto.
─ Chiiiiiu, acalma-te, não tens de me contar nada que não queiras
contar. ─ Murmurei abraçando-a de encontro a mim para acalma-la.
─ Tenho sim, Jake. Precisamos conversar.
─ Ok, Mary, está bem.
Mary, pegou na minha mão e levou-me para a praia. Sentou-se na
areia e eu, segui-lhe o exemplo.
─ Jake, desde que te reencontrei, mudei. Comecei a interessar-me
por coisas que não conhecia, como o surf
e o meu comportamento mudou também. Não conseguia deixar de pensar em ti, ─
ainda não consigo, nem consigo dormir. Depois de me esgotar em pensamentos há
algumas noites atrás, adormeci e tive um sonho onde me apareceste, só que nem
tu eras tu e eu também não era eu!
─ Como assim, Mary?
─ Tínhamos outros corpos, não estes. Porém, ao olhar-te nos olhos,
soube que eras tu. No sonho vi que nos amámos há muito tempo atrás, fomos um
casal. Depois, quando me beijaste naquela manhã, lembrei-me do sonho… E, és tu. Jake,
és tu o amor da minha vida. Estou apaixonada por ti… ─ E ao declarar-se, baixou
os olhos timidamente.
Beijei-a numa explosão de alegria e disse:
─ Amo-te, Mary, amo-te. ─ Acariciei-lhe o rosto e olhei-a nos
olhos. ─ Mas, porque choravas, Amor?
─ Porque primeiro; nunca me declarei, cabe aos homens darem esse
passo. Segundo, não tinha a certeza se me corresponderias, ─ embora me tivesses
beijado… E terceiro, tive medo que me achasses louca!
─ Louca? Mary, não te acho louca. Eu sinto o mesmo por ti, desde
que nos reencontramos na loja. Também não consigo dormir, por pensar só em ti,
24 horas por dia. Estou perdidamente apaixonado por ti. Amo-te. Sejamos loucos,
então!
Ela beijou-me e aninhou-se de encontro ao meu peito, abracei-a.
─ Acreditas em vidas passadas, em Almas Gémeas?
─ Antes de te conhecer, essa ideia não me parecia real, de todo. Mas agora
que estamos juntos, parece-me que essas teorias são possíveis. Portanto, acredito.
Safira tinha razão!
─ Quem é essa Safira? ─ Perguntou Mary um pouco ciumenta.
─ Ahahah! Não estejas com ciúmes, Amor. Safira, foi uma cigana que
me fez uma consulta de Tarot e falou-me no meu destino. Ela disse que
brevemente iria encontrar um amor do passado, que essa mulher era a mulher da
minha vida e que eramos Almas Gémeas.
─ A sério?
─ Sim, a sério. E eu mostrei-me incrivelmente céptico! Ela não
ficou nada impressionada, disse que quando reencontrasse a mulher da minha
vida, isso ia passar e mudaria de opinião. E não é que está a aconteceu
exactamente como ela disse que seria?! UAU!
Conversamos e namoramos mais um pouco, depois fui levá-la a casa.
Despedimo-nos com um beijo, com a certeza de que esta noite não ficaríamos
insones. Deixei-a em casa e fui ter com Andy.
─ Hey, meu! Que surpresa, estava a pensar em ti! Está tudo bem,
dormiste?
─ Sim, dormi ─ respondi afirmativo e puxei uma cadeira sentando-me,
virando as costas da cadeira para a minha frente.
─ Ainda bem, estava preocupado. Mas agora noto que estás
diferente, pareces até mudado, mais alegre! O que aconteceu?
─ Bem, já que falas nisso e notaste que estou diferente, vou
contar-te. Estive com Mary e, bom, somos namorados.
─ A sério, puto? Que fixe! Parabéns, pá! ─ Exclamou dando-me uma
palmada nos ombros. Hoje é só boas notícias!
─ Então?
─ Vai haver um campeonato em Ocean Beach, San Diego a semana que
vem. Queres ir, puto?
─ É claro que quero! Isso é pergunta?!
─ Ahahah, então como agora tens uma namorada, podias não querer
ir! ─ Exclamou Andy, metendo-se comigo.
─ Achas mesmo?
─ Nop, estava a brincar contigo.
─ Estava aqui a pensar que era bom que ela também fosse.
─ O rapaz perdeu o juízo! Onde pensas que estás? Além disso, ela é
judia. A família dela deve ser muito tradicionalista, conservadora… Duvido
mesmo muito que deixassem ela ir contigo.
─ Pois, és capaz de ter razão. Ainda não os conheço…
─ E mesmo que já os conhecesses, isso não ia acontecer. Vocês têm
que ter cuidado.
─ Cuidado, com o quê?
─ Com a família dela.
─ Então?
─ Então, tu não professas a mesma religião que eles e isso pode
trazer problemas aos dois.
─ Eu não tenho propriamente religião…
─ Pois, mais me ajudas…
Os dias passaram e a cada dia, estávamos mais apaixonados um pelo
outro. Mary, ia ver-me surfar ao fim da tarde. Umas vezes vinha sozinha,
noutras vinha com o Mike. Mike, sabia do nosso namoro e apoiava-nos. Mas a
família ainda não sabia que Mary namorava com um rapaz surfista, era cedo para
oficializar o nosso amor. Namorávamos há uma semana e entendíamo-nos
perfeitamente. Havia momentos em que adivinhávamos o pensamento um do outro,
não discutíamos e tínhamos muita confiança um no outro também.
A despedida para o campeonato na Praia de Ocean, foi difícil para
ambos. Mas era um mal necessário, seria bom para mim esta prova. Já não conseguíamos
estar separados muito tempo.
Entretanto, nos jornais e na televisão falava-se no conflito
levado acabo no Vietname, onde milhares de rapazes morriam à mercê das tropas
vietnamitas, do Vietname Sul. Era uma tristeza sem tamanho… Os hippies manifestavam-se pedindo o fim da
guerra e desejando a paz.
Afinal, a Era da Paz e do Amor Livre tinha nascido a nova filosofia onde se fundamentava a Nova Era, a Era de Aquário que mencionava os reencontros terrenos entre Almas Gémeas, assim falavam os místicos e os hippies.
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
(Próximo Capítulo a Publicar: Domingo, dia 4 de Agosto de 2013)
Passaram-se alguns dias,
desde que encontrara Mike e Mary na loja. Desde então, nunca mais a tinha visto,
nem ao Mike mas também não a tinha esquecido. De dia pensava nela, de noite
sonhava. Isto quando conseguia adormecer, porque dormir mesmo a noite inteira,
começava a ser uma raridade! Agora era sempre assim, pouco ou nada dormia, não
importava se estava muito ou pouco cansado. Não parava de pensar nela…
Uma hora após ter acordado,
levantei-me. Estava cansado de dar voltas na cama vazia. Como não conseguia
dormir, fui para a praia pescar. Era o melhor que podia fazer, pelo menos
distraía-me com a linda paisagem. Mais tarde, iria surfar à hora combinada sob
as instruções de Andy. Este era o plano. No entanto, eu não estava sozinho
naquela praia como pensava, porque sem que eu esperasse umas mãos vendaram os
meus olhos.
─ Quem és? ─ Perguntei,
mas ninguém me respondeu. Então, como desejava que fosse Mary, arrisquei e
disse o seu nome. ─ Mary?
─ Como soubeste que era
eu?! ─ Disse ela saindo de trás de mim, surpreendida.
─ É fácil, o toque é feminino.
As mãos das mulheres são mais suaves.
─ Humm, muito espertinho,
tu! O que fazes aqui a esta hora, ainda nem amanheceu!
─ Não tinha sono e vim
pescar para descontrair. É bom para acalmar a mente. ─ Respondi.
─ Ui, o que é que te anda
a tirar o sono? Não me digas que sou eu! ─ Disse na brincadeira.
─ Claro, que não... Só
estou ansioso com o campeonato, é isso. ─ Respondi com uma meia verdade. Estava
surpreendido com a percepção de Mary. Como podia ela saber?! Conhecíamo-nos
havia poucos dias e ela já percebera meus sentimentos! As mulheres tinham uma
intuição excepcional, realmente. "Boa, Jake, realmente és muito bom a guardar
segredos. Idiota!", suspirei censurando-me em pensamento.
─ Estás mesmo preocupado!
Que campeonato é esse, também posso participar?! ─ Perguntou Mary com
entusiasmo.
─ É mais ansiedade o que
sinto, do que preocupação. O campeonato de que estou a falar, é de surf e
realiza-se nesta praia daqui a 14 dias, do qual sou participante. Era porreiro
se entrasses! Praticas surf?
─ Não, mas gostava. Mas
tudo bem, não posso. O meu pai também não me deixava.
─ Então porquê? ─
Perguntei interessado.
─ Não é óbvia essa
resposta?!
─ Não.
─ Ok, está bem, eu explico.
É porque sou uma mulher, Jake.
─ E o que é que tem de
seres mulher?
─ A minha família é muito
tradicionalista, conservadora. Os meus avós são judeus e quando se deu a
segunda guerra mundial, fugiram da Alemanha e vieram no porão de um navio para cá.
Vinham cheios de esperança para começar uma nova vida. América, o país da
liberdade e da realização dos seus sonhos.
─ E os teus avós que
vieram para cá, eram paternos ou maternos?
─ Eram paternos, os meus
avós maternos já cá estavam e eram amigos da família dos meus outros avós.
Foi assim que os meus pais se conheceram, ficaram noivos e casaram. Seguiram os
preceitos judaicos a rigor e transmitiram-me esses mesmos valores.
Eu ouvia-a atentamente e a
cada palavra, a cada movimento do vento nos seus longos cabelos ondulados
louros, deixava-me mais apaixonado por aquela jovem que era prima do meu melhor
amigo: Mary. Até que um peixe mordeu o isco e a história foi interrompida! Numa
grande animação tirámos o peixe de dentro de água, Mary prontificou-se a ajudar
sem que lhe pedisse auxílio. Ela era dinâmica, activa, cheia de iniciativa e
muito perspicaz também. O vestido esvoaçava levemente com os seus movimentos e revelava-me
a perfeição do seu corpo de mulher. Seus seios eram redondos, mas não muito
grandes, a cintura era fina e bem delineada, assim como as suas coxas e pernas.
Pareciam terem sido esculpidas por escultores célebres da história da arte,
tais como Miguel Ângelo, ou Leonardo Da Vinci. Suspirei fechando os olhos
apreciando o momento, sem ela perceber, até que houve um movimento imprevisível
a manejar a cana que nos enrolou um no outro, no fio de pesca. Os nossos corpos
tocavam-se e as nossas bocas roçaram-se por breves instantes, numa
respiração quente e ofegante. Senti os seus seios redondos, aumentarem de volume de
encontro ao meu peito musculado, naquele momento de excitação. Então parámos e
ao olharmo-nos nos olhos ficámos em silêncio. A lua iluminava os belos olhos de
Mary, verdes como o mar e as nossas bocas uniram-se num longo beijo apaixonado.
E que beijo, meu Deus! Tão doce. Tão quente, molhado, intenso deixando-me muito
excitado, mas no momento em que minhas mãos avançavam precipitadas pelos seus seios,
ela empurrou-me e já desembaraçado do fio desequilibrei-me e cai no chão.
─ Tenho de ir... ─ Declarou,
saindo a correr subitamente.
─ Mary... ─ Chamei-a, mas
ela não respondeu e desapareceu em direcção a casa.
Fechei os olhos e
deixei-me ficar deitado, a recordar o momento vezes sem conta. Mas por outro
lado, fiquei confuso. Teria ela ficado chateada por causa do nosso beijo...? Ou
ela empurrou-me e fugiu por ter gostado? Claro que ela não tinha gostado, fui
demasiado ousado e atrevido!
─ Jake, és um idiota! ─
Murmurei sentado na praia. ─ Estraguei tudo com a Mary... ─ e dizendo isto, as
lágrimas molharam o meu rosto. Limpei-o em seguida, já era dia e o sol estava a
nascer. Andy, acordara e eu não queria que ele me visse assim.
─ Bom dia, puto! Já cá
estás? ─ Perguntou Andy ao abrir a porta da sua casa.
─ Olá, Andy. Bom dia. ─
Respondi pensativo e comecei a arrumar o material de pesca. A linha estava
partida e tinha deixado o peixe fugir.
─ Estás aí há quanto
tempo? ─ Perguntou.
─ Desde as 4h30...
─ Madrugaste hoje! O quê, caíste
da cama abaixo, foi? - Brincou. ─ Tens de controlar essa tua ansiedade.
─ Pois tenho...
─ Anda daí, vem tomar o
pequeno-almoço comigo.
─ Obrigado, Andy, mas não
tenho fome. Desculpa.
─ Hoje estás esquisito. O
que se passa contigo? Foi a tua mãe?
─ Não, não foi nada. Está
tudo bem. Vamos treinar?
─ Ok, ok, hoje não estás com
muita disposição para conversas. Não é? Estou a compreender-te. ─ Dizendo isto,
fez um gesto para eu ir andando. ─ Vai.
Ele já iria ter comigo
depois do pequeno-almoço e obediente, fiz o que ele me indicava com o gesto. Peguei
na prancha e nadei com ela até onde costumava ir, para cavalgar nas ondas.
Depois, esperava e concentrava-me profundamente. Eramos só nós, o céu, o mar, a
brisa, Deus e eu. Para mim o sol era a face de Deus, ou pelo menos era assim
que eu pensava.
Tentei esperar por Andy,
mas hoje estava demasiado nervoso, impaciente. Sentia-me confuso e perturbado,
mas também muito apaixonado.
Logo depois chegou o Andy
que foi ajudar-me a desenvolver-me nos tubos. Adorava fazer isto, entrar dentro
das ondas. Era espectacular!
E assim começava o meu
dia, seguindo para casa para almoçar, regressando depois à tarde para surfar novamente.
Mas hoje, não me estava a apetecer ir para casa. Com a sorte que estava a ter, ainda
ia dar de caras com o Mike que depois, provavelmente, me pediria contas por
causa de Mary. Afinal eles eram primos direitos... Talvez devesse ficar com Andy
e tentar dormir ali, pois esta noite não pregara olho por estar a pensar em
Mary. E a lembrança daquele beijo veio à minha mente, outra vez. Foi tão quente
que quando penso no beijo, ardo por dentro. Terei errado tanto assim?
Agora mais do que nunca
tinha a certeza, era Mary a mulher da minha vida. No meio destes pensamentos,
distraí-me e perdi o equilíbrio caindo ao mar. Vi Andy bracejar à beira do mar,
mas como estava tão absorto nos meus pensamentos não percebi o que ele dizia e
bati contra outro surfista que estava perto. O nome dele era Dilan.
─ Hey, estás cego ou quê,
meu? Vê mas é para onde vais!
─ Desculpa, Dilan. Não te
vi, estava distraído…
─ Distraído?! Estás a
precisar é de estar com uma mulher, isso sim!
Não lhe dei resposta e
remei até à praia. Andy, que tinha assistido a tudo, perguntou imediatamente:
─ O que foi aquilo, puto?
Passaste-te?!
─ Distraí-me…
─ Distraíste-te? Ouve lá,
faltam duas semanas para o campeonato. Não te podes simplesmente distrair,
Jake! Concentra-te, meu.
─ Desculpa, não volta a
acontecer.
─ Vê se atinas!
Andy deu-me um enorme
sermão. Ele tinha razão, tinha de concentrar-me, ou poderia esquecer o
campeonato. Perguntou-me o que se passava comigo e eu contei-lhe a verdade,
falei-lhe de Mary e no que tinha acontecido.
─ Ah, então é isso! Encontraste-a.
Compreendo, mas não te preocupes. Ela volta.
─ Achas?
─ Sim, dá-lhe tempo. Ela
assustou-se, provavelmente, está confusa também. Isso passa!
Depois desta conversa
esclarecedora, fui para casa dormir, ou pelo menos tentar. Precisava descansar,
mas desta vez dormi mesmo. Foi toda a tarde.
Fui acordado pelo
telefone, que tocava insistentemente. Atendi, mas ao levantar o auscultador
desligaram do outro lado da linha sem que eu tivesse tempo de falar. Praguejei aborrecido
e após por o auscultador no local, vi debaixo da porta da rua um papel dobrado.
Intrigado, cocei o queixo proeminente
e bem barbeado, apanhei a folha de papel do chão, que estava dobrada em duas e li-a. Nela
estava escrito o seguinte:
“Jake,
Vem ter comigo à praia ao
pôr-do-sol.
Precisamos conversar.
Mary”
Guardei o bilhete no bolso
dos calções e fui para a praia espera-la. Estava na hora.
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
(Próximo Capítulo a Publicar: Domingo, dia 28 de Julho de 2013